- 14 de fevereiro de 2025
- Posted by: admin
- Category: Halitose, Odontologia

Embora comumente associado à má higiene bucal, o mau hálito — ou halitose — pode ter origens muito mais complexas do que simplesmente escovar pouco os dentes. Estima-se que cerca de 30% da população mundial sofra, em algum momento da vida, com esse problema, que pode afetar tanto a autoestima quanto as relações sociais.
O que poucos sabem, no entanto, é que algumas causas do mau cheiro na boca são silenciosas, inesperadas e, muitas vezes, não estão relacionadas à cavidade oral. Este texto investiga fatores pouco conhecidos que contribuem para a halitose e apresenta formas práticas e eficazes de enfrentá-la, com base em orientações de profissionais da saúde e dados atualizados.
Boca seca: o vilão invisível
A saliva desempenha um papel essencial na limpeza natural da boca, ajudando a eliminar restos alimentares e bactérias. Quando a produção salivar diminui — condição conhecida como xerostomia —, o ambiente bucal se torna propício para o acúmulo de compostos sulfurosos, responsáveis pelo odor desagradável.
Esse ressecamento pode ser causado por uso de determinados medicamentos (como antidepressivos e anti-hipertensivos), estresse excessivo ou até respiração bucal durante o sono. Pessoas que roncam ou sofrem de apneia do sono, por exemplo, estão mais propensas à halitose matinal.
Como tratar: manter-se hidratado ao longo do dia, estimular a produção de saliva com balas sem açúcar ou chicletes e, se necessário, utilizar substitutos salivares indicados por um dentista.
Dietas restritivas e jejum prolongado
Dietas da moda, principalmente aquelas com baixo teor de carboidratos — como a cetogênica —, levam o corpo a um processo chamado cetose, em que há produção de corpos cetônicos. Esses compostos, liberados na respiração, possuem cheiro forte e característico, similar ao de frutas passadas ou solventes.
Dessa maneira, o jejum prolongado faz com que o organismo recorra a reservas de gordura para obter energia, intensificando a liberação desses compostos odoríferos.
Como tratar: conversar com um nutricionista sobre alternativas menos agressivas ao metabolismo e manter a ingestão equilibrada de alimentos, mesmo em dietas específicas.
Problemas no sistema digestivo
Alterações no trato gastrointestinal também podem repercutir na boca. O refluxo gastroesofágico, por exemplo, permite que ácidos e partículas alimentares subam pelo esôfago, provocando um hálito ácido ou metálico. Em alguns casos, infecções estomacais causadas pela bactéria Helicobacter pylori estão associadas a episódios de halitose persistente.
Como tratar: procurar um gastroenterologista para investigar sintomas como azia, sensação de queimação e regurgitação. O tratamento pode envolver mudanças na alimentação, uso de antiácidos ou antibióticos, conforme o diagnóstico.
Amígdalas e cáseos
Os cáseos amigdalianos são pequenos depósitos brancos ou amarelados que se formam nas amígdalas devido ao acúmulo de células mortas, muco e restos de alimentos. Embora muitas vezes passem despercebidos, eles podem exalar um odor muito forte, perceptível até durante conversas.
Como tratar: manter boa higiene da região oral e, em casos recorrentes, procurar um otorrinolaringologista. A remoção manual com cotonetes ou irrigadores pode ajudar, mas em situações crônicas, pode-se indicar cirurgia para retirada das amígdalas.
Diabetes descompensado
O desequilíbrio dos níveis de glicose no sangue, comum em pessoas com diabetes mal controlado, pode gerar um hálito adocicado, conhecido como hálito cetônico. Trata-se de um indicativo de cetoacidose diabética — quadro que exige atenção médica imediata.
Assim sendo, o excesso de açúcar no sangue favorece o crescimento de fungos e bactérias na cavidade oral, agravando ainda mais a situação.
Como tratar: manter acompanhamento com endocrinologista, fazer o controle rigoroso da glicemia e seguir a dieta recomendada. Visitas regulares ao dentista também ajudam a prevenir infecções oportunistas na boca.
Problemas hepáticos e renais
Quando o fígado ou os rins não funcionam adequadamente, substâncias tóxicas que deveriam ser filtradas permanecem no organismo. Isso pode afetar o hálito, gerando odores semelhantes a peixe, amônia ou enxofre.
Embora raras, essas condições são sérias e exigem avaliação médica. O mau hálito, nesse contexto, funciona como um sinal de alerta do corpo para algo mais profundo.
Como tratar: investigar sintomas associados, como inchaço, fadiga e urina escura. O tratamento depende do estágio e do tipo de disfunção diagnosticada.
Higiene bucal inadequada (ainda é relevante)
Embora menos surpreendente, a má escovação ainda é uma das principais causas da halitose. Escovar apenas os dentes e ignorar a língua ou o uso do fio dental favorece o acúmulo de placas bacterianas, que se decompõem e liberam odores desagradáveis.
A língua, em especial, abriga milhões de bactérias em sua superfície rugosa. Se não for higienizada corretamente, torna-se um foco contínuo de halitose.
Como tratar: escovar os dentes ao menos três vezes ao dia, usar fio dental diariamente e incluir a escovação da língua na rotina. Consultas periódicas com dentista para limpezas e avaliações completam a prevenção.
Tabagismo e álcool
O consumo de cigarro e bebidas alcoólicas altera significativamente o ambiente bucal, favorecendo a proliferação de bactérias anaeróbicas — aquelas que se desenvolvem sem oxigênio e são altamente responsáveis pelo mau odor. Desse modo, essas substâncias ressecam a mucosa oral, contribuindo para a redução da produção salivar.
Como tratar: a única solução realmente eficaz é reduzir ou eliminar o consumo dessas substâncias. Programas de cessação do tabagismo, apoio psicológico e alternativas como adesivos de nicotina podem ajudar nesse processo.
Estresse e ansiedade
Situações de estresse contínuo ativam o sistema nervoso simpático, que entre outros efeitos, pode reduzir a produção de saliva. Pessoas ansiosas também tendem a respirar mais pela boca e a tensionar os músculos faciais, o que interfere no equilíbrio oral e favorece a halitose.
Como tratar: buscar formas de gerenciar o estresse, como atividade física, terapia ou meditação. Em casos mais intensos, a orientação de um profissional de saúde mental é recomendada.
Abordagem multidisciplinar
O mau hálito, por mais incômodo que pareça, é muitas vezes apenas a ponta do iceberg de questões mais profundas no corpo. Encará-lo como um sintoma — e não como um problema isolado — é o primeiro passo para encontrar a causa real e buscar soluções duradouras.
Independentemente do motivo, o tratamento deve sempre envolver uma abordagem multidisciplinar. Dentistas, clínicos gerais, nutricionistas e outros especialistas podem contribuir, cada um com seu olhar, para restaurar não apenas o frescor da respiração, mas também a qualidade de vida de quem sofre com a halitose.
Você costuma sentir a boca seca, segue uma dieta muito restrita ou tem notado alterações no hálito sem motivo aparente? Investigar é essencial — afinal, o corpo fala, inclusive através da respiração.